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segunda-feira, 19 de abril de 2010

Sobre a palavra design

"Em inglês, a palavra design funciona como substantivo e também como verbo (circunstância que caracteriza muito bem o espírito da língua inglesa). Como substantivo significa entre outras coisas "propósito", "plano", "intenção", "meta", "esquema maligno", "conspiração", "forma", "estrutura básica" e todos esses e outros significados estão relacionados a "astúcia" e a "fraude". Na situação de verbo - to design - significa entre outras coisas, "tramar algo", "simular", "projetar", "esquematizar", "configurar", "proceder de modo estratégico". A palavra é de origem latina e contém em si o termo signum, que significa o mesmo que a palavra alemã Zeichen ("signo","desenho"). E tanto signum como Zeichen tem origem comum. Etimologicamente a palavra design significa algo assim como de-signar (entzeichnen)." pg181

"A palavra design ocorre em um contexto de astúcias e fraudes. O designer é portanto um conspirador malicioso que se dedica a engendrar armadilhas. Outros termos também bastantes significativos aparecem nesse contexto, como, por exemplo, as palavras "mecânica" e "máquina". Em grego, mechos designa um mecanismo que tem por objetivo enganar, , uma armadilha, e o cavalo de Tróia é um exemplo disso. Ulisses é chamdo de polymechanikos, o que traduzíamos no colégio como "o astucioso" (der Listenreiche). A própia palavra mechos tem sua origem na raiz "magh-", que podemos reconhecer nas palvras alemãs Macht e mogen. Uma máquina, portanto, é um dispositivo de enganação, como por exemplo a alavanca, que engana a gravidade, e a "mecânica", por sua vez é uma estratégia que disfarça os corpos pesados."pg182
Trechos do texto "sobre a palavra design" do livro O mundo codificado de Vilém Flusser, editora Cosacnaify.
Questões a partir do texto de Flusser:
O muro e seus aparatos complementares (ferros, vidros e cercas elétricas) , se pensados enquanto design, seriam dispositivos de enganação, pois disfarçam um idéia de segurança e proteção para quem está atrás deles?
Em defesa da propriedade privada, a sociedade naturalizou o uso de determinados designs como ferro, vidros e cercas elétricas que tem sua eficiência em ferir e debilitar a integridade física ou, em alguns casos, matar quem ousar atravessar a fronteira imposta pelo muro.
Leo França

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