RÁDIO

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Visitação da exposição “Auguste Rodin, homem e gênio” – por Tarso Reis.










Visitação da exposição “Rodin” – por Tarso Reis.







Proponente: Paula Carneiro.







- Interesses prévios apontados pelo proponente: ???




Atividades: Visita á exposição com obras do artista Rodin – Palácio das Artes







Percepções: Chego no exato momento que a turma inicia a observação no hall de entrada do palácio, provavelmente perdi as colocações iniciais e chego no local sem fazer a mínima idéia de quem seria Rodin ou do que tratava suas obras, dentre elas a primeira que observo: “O beijo” causa admiração primeiramente pelo seu tamanho, a escultura em gesso que representa um casal entrelaçado por um beijo apaixonado que esconde a identidade dos mesmos, ao ler a placa de identificação do museu fico sabendo que se tratavam de primos amantes pecadores de algum lugar do passado. Vou circulando pelas salas iniciais tentando captar algo da observação daquelas obras, ao mesmo tempo em que ouço instruções dadas por uma estagiária do museu a uma turma de pequenos (muito pequenos) visitantes, deviam ter cerca de 5 anos de idade e são orientados pelas simpáticas moças sobre a vida do autor ou da intencionalidade de suas esculturas, dentre as falas escuto repetidas vezes a expressão “Porta do inferno”. Logo em seguida, na segunda sala com diversas versões da escultura “Cristo e Madalena” é que entendo que todas as esculturas fazem parte do processo criativo de Rodin para uma única obra: a tal “Porta do inferno”. A partir de tal descoberta a exposição ganha sentido, percebo nas imagens algum tipo de distorção intencionada, os corpos são aparentemente inacabados ou com algum defeito e/ou ausência clara de identidade,os rostos muitas vezes se escondem e em algumas nota-se mesmo algum tipo de mutilação. Na terceira sala encontro com Paulinha e ela me orienta a observar o movimento das esculturas, algum tipo de captação motora transposta pelo autor para o gesso, esta percepção orientada causa outras viagens na observação. Na sala seguinte me deparo com um corpo enorme de músculos que caminha sem braços nem cabeça... “?” ...e a visita continua no andar superior enquanto discutimos sobre conceitos históricos possivelmente representados pelo artista, algo nos leva a crer que Rodin se interessou por concentrar na porta do inferno imagens representativas do pecado, como uma espécie de alerta aos espect(pec)adores sobre o possível destino de amantes proibidos, de mulheres pecadoras, de corpos excitantemente entrelaçados e sobrepostos, alguns deles parecem fundidos enquanto flutuam em algum lugar da porta do inferno. São muitas e muitas imagens expostas e me pergunto quanto tempo o artista trabalhou nesta espetacular obra de proporções físicas assustadoras para o presente, imagine para o passado...




Na penúltima sala encontra-se “ O pensador”, magnífico em sua plenitude, esta obra é muito conhecida por mim, não lembro exatamente de onde, mas ela faz parte do meu acervo de imagens, é incrível e satisfatória a identificação que se estabelece para mim com o autor naquele momento, afinal Rodin faz parte do meu passado sem que eu soubesse, então reflito sobre os encantamentos e poderes da arte, além da responsabilidade de nós artistas ao compormos nossa obra, o pensador é como se fosse Deus,ou o próprio Rodin, ou eu, ou algum dos meus colegas a debruçar-se sobre nossa composição, a contemplar nossa criação e possíveis comportamentos/movimentos de nossas criaturas...




Para finalizar uma réplica da obra completa, “ A porta do Inferno” parece um portão, em diferentes partes do tal portão encontra-se cada uma das imagens esboçadas durante a exposição, me dirijo à guia do museu, que agora fala para um grupo de alunos de aproximadamente 10 anos de idade, para saber o tamanho da obra original que segundo ela é de aproximadamente 6 metros e encontra-se exposta na França, tento imaginar um artista compondo em gesso algo daquela complexidade e com 6 metros de altura quando a guia me traz de volta a realidade com a frase dita para os alunos: “Gente, este aqui é a porta completa, mas não completa na verdade porque seu autor, Rodin, morreu antes de finalizá-la.” Como assim???Ele morreu sem terminar?Êta classe sofredora essa de artistas, se Rodin com tantos anos de dedicação para sua obra não a viu concluída, não sou eu que em laboratórios de corpo e criação conseguirei concluir a minha, e isto ao mesmo tempo que incomoda, me tranqüiliza.




As últimas considerações sobre o museu são da importância de iniciativas como esta na formação critica do sujeito enquanto observador de arte, certamente os tantos alunos que ali estavam no mesmo dia que nós graduandos de dança, tiveram outras percepções e pensamentos, o que percebo agora como importante, não é a fidelidade das informações geradas pela visita, e sim a provocação que o contato com a arte pode gerar nas cabecinhas que a contemplam.




Precisamos borbulhar na formação de educandos, e de toda a sociedade, (o interesse por) e as possíveis e incríveis descobertas geradas pelo encontro com a arte nas suas diferentes formas de (re-)(a)presentação.

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